AO PÉ DO FOGO – TAMBOR DE CRIOULA
Em 2003 o grupo Mundaréu chegou a Curitiba trazendo de São Luis o terno de tambores próprio da brincadeira do Tambor de crioula maranhense. Vieram junto com eles, muita vontade de brincar e algum conhecimento no assunto.Em encontros dominicais fomos criando um espaço de troca em torno da festa.O mesmo prazer em brincar contagiou o grupo de pessoas presentes , do qual faziam parte oficineiros , artistas da cidade e curiosos.Em poucos meses estas praticas tomaram o formato de festa invadindo o calçadão do Largo da Ordem.Durante esse caminho veio morar em Curitiba Ângelo Maranhão , percussionista , que também coloca sua parelha de tambores para brincar.O objetivo do Ao pé do fogo-Tambor de Crioula é continuar investigando o Tambor dentro da nossa realidade.Conversar, ouvir, ler, assistir, tocar, cantar, dançar, comer e beber juntos na tentativa de preencher lacunas deixadas pela falta de proximidade com os sofisticados artistas que vivem o tambor no Maranhão.Além de tentar descobrir que vontade é esta que faz Curitiba vibrar diante de uma fogueira e uma brincadeira de tambor.
TAMBOR DE CRIOULA
O tambor de crioula é forma de expressão de matriz afro-brasileira que envolve brincadeira, dança, canto e percussão de tambores. Seja ao ar livre, nas praças, no interior de terreiros, ou então associado a outros eventos e manifestações, é realizado sem local específico ou calendário pré-fixado e praticado em louvor a São Benedito. Embora não se possa precisar com segurança suas origens históricas, é possível encontrar, dispersas em documentos impressos e na memória dos mais velhos, referências a cultos lúdico-religiosos realizados ao longo do século XIX por escravos e seus descendentes enquanto forma de lazer e resistência ao contexto opressivo do regime de trabalho escravocrata.
Os tocadores ,cantadores e dancadores, também denominados coreiros e coreiras, são conduzidos pelo ritmo dos tambores e o influxo das toadas evocadas, culminando na punga (ou umbigada) – movimento da brincadeira no qual as coreiras, num gesto entendido como saudação e convite, tocam o ventre umas das outras. Em 20 de novembro de 2007 o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) reconheceu e registrou o Tambor de crioula como patrimônio imaterial brasileiro Esse registro do patrimônio imaterial equivale ao tombamento que reconhece e protege os bens e monumentos considerados como patrimônio material.
TEMAS
27/05 – Meiåo, crivador e tambor grande: conversa de tambor
07/06 – Festa de encerramento – sábado às 16h
INFORMAÇÕES:
Espaço Terreirão do Mundaréu
Rua Domingos Nascimento, 149 – São Francisco
(41) 3079-8408 / 9203-7315
mundareu@mundareu.com.br
Melina
abr 21, 2009 @ 12:36:57
Ao pé do fogo-Grupo de estudo Dia 15/04/2009
Primeiro dia.
Fiquei muito feliz em ver o povo chegando cedo, começo agradecendo a presença de todos e a São Benedito pela boa conversa.Fogueira e vela acesa, comida e cachaça na mesa e um monte de assunto sobre tambor de crioula só pra começar.Em uma conversa inicial, todos sentados em roda, falei sobre os motivos do encontro.A minha vontade de colocar os tambores pra cantar e a necessidade de ver as pessoas juntas e conversando sobre o assunto.O povo todo se apresentou.Na roda :Mundaréu, coureiros e coureiras curitibanas , povo da assistencia , gente que nunca viu, e até gente de fora da cidade que veio pra saber mais.Destacando a presença do Adebaio, futuro professor de Iorubá na casa do Mundaréu e Ângelo Maranhão.
Começamos assistindo um dvd que se chama O calor do tambor de crioula no Maranhão dá o tom`a cultura popular,provável produção de algum órgão oficial maranhense, mas sem créditos na caixa.O Dvd , outrora um vhs, é um pouco engraçado por suas partes bem explicativas e de um didatismo exagerado e algumas vezes confuso.No entanto, tem muitas entrevistas, com Mestre Felipe ,Dona Mundica, Mestre Leonardo e Mestre Chico, o que vale um tesouro.
Depois de assistir, passamos um tempo esclarecendo para quem nunca tinha visto um tambor, como funciona a brincadeira.No decorrer da conversa , o principal intuito passa a ser descobrir a origem.Após algumas conjecturas chegamos aos escravos negros brasileiros , a África e a promessa do Adebaio de uma explicação mais detalhada sobre o sentido de nação africana.Lembrados pelo Ângelo sobre o tambor de pernada, jogo feito pelos homens ao som dos mesmos tambores, parente ou origem da capoeira ,segundo alguns maranhenses.Segundo a opinião do Ângelo ,a roda feminina, que os registros oficias datam da década de 60, sempre esteve presente convivendo com a pernada dos homens.
Outro assunto, quando e porque se faz um tambor?
Por promessa sim, Mestre Leonardo confirmou, aniversários, batizados, enterros,carnaval, São João, tudo sob a benção do dono do tambor ,São Benedito.
Lembramos também o fato de que existe no Brasil mais de uma data em homenagem ao padroeiro, agosto, abril , dezembro e talvez mais, dependendo da região.
O fato é que a nossa necessidade em precisar a origem do tambor talvez estivesse servindo pra nos afastar do melhor do assunto.Chamei a atenção pras duas visões distintas que o dvd proporcionou:os brincantes e os estudiosos.Mestre Leonardo define com abrangência e sabedoria:
-Tambor , mulher e café só presta quente.
Como usar este mesmo olhar para entender através dos nossos modos de pensar?
Calor, comida, vibração,fertilidade, abundancia , sentido de comunidade.
-E o negócio do tambor de crioula é uma brincadeira,uma diversão, que todo mundo deve se unir. Bumba boi, tambor crioula, toda diversão …tem que ser unido, tem até outro que zanga na brincadeira e tal ,nao dá certo!(Mestre Felipe)
Aqui escrevendo paro pra pensar e agradecer a possibilidade de ver Seu Felipe na tela da tv ensinando a gente de longe.
Seguimos a conversa meio que misturando tudo e entrando no assunto da sexualidade e da sensualidade dentro da brincadeira.Falamos sobre a relação entre a conversa: tambor grande X coureira , e o sexo , além do fato de terem aparecido muitas mulheres grávidas em torno da brincadeira.Pra mim este espírito de perpetuação, de vida,assustou muito a todos que estavam brincando tambor aqui na cidade. Um assunto um pouco difícil pois pude perceber o olhar desconcertado de muitos na roda.Mesmo depois de toda banalização do sexo imposta pela mídia a gente ainda cora com algumas coisas, parece bom sinal.Se alguém do grupo procurar sobre danças de lembamento talvez nos ajude a explicar sem tanto medo.Seguimos falando mais sobre o tambor aqui de Curitiba, que era o assunto do dia e o tempo foi pouquíssimo.
A Daniella Gramani disse da percepção dela sobre a dificuldade do grupo em torno do tambor em aceitar uma liderança ,é certo que as pessoas que trouxeram os tambores pra Curitiba no porta malas de um ônibus de linha não eram os velhos mestres maranhenses . Mas a possibilidade de troca é o que mais interessava com certeza a todos nós, pois ninguém faz tambor com cinco pessoas.
A Dayse Santiago falou sobre necessidade de seqüência no tambor principalmente pra poder resolver as quizilas iniciadas num dia.Na brincadeira aparece a competitividade, o desafio de quem dança mais ,quem toca mais quem melhor define o momento com um verso.Todo mundo vai se mostrando no decorrer do esquentar da festa, as relações vão ficando claras.A Brenda colocou na roda a palavra hierarquia, falando de Candomblé ,onde as funções são bem definidas e o respeito pelos mais velhos no santo dá o andamento das coisas no terreiro.Como Seu Felipe falou …
Lá em São Luis , só entro em uma roda se for convidada, se estiver com uma saia de tambor, e pra pungar só com consentimento de alguma coureira respeitada ou do dono da brincadeira.Aqui puxamos as coureiras quase a força pra dentro da roda no desespero doido de fazer o tambor ser como gostaríamos.
O tempo se esgotou, falamos e ouvimos das 19h as 21h quase,sobraram dez minutos pro lanche.Quem queria pode ir olhar os tambores na sala dos instrumentos, quando cheguei lá , os dois mais novos estavam na fissura batucando, Benedito, 3 anos, e Liz,perto de 10 anos, eu acho.
É claro que o assunto não chegou nem no meio,e sei que também não consegui registrar tudo aqui.Pensei em nomear um escrivão por dia, parece bom né?
Até quarta-feira!
Melina Mulazani
Melina
abr 21, 2009 @ 14:02:05
Acabei de assistir aos videos no Nóbrega em seu programa sobre danças brasileiras no you tube, é só digitar tambor de crioula Vale a pena!
Melina
Dilma
abr 24, 2009 @ 11:58:35
Ao pé do fogo-Grupo de estudo Dia 22/04/2009
Segundo Dia
Primeiramente gostaria de agradecer a iniciativa de Melina e Mundaréu em realizar estes encontros! Sinto que serão (e já estão sendo) muito proveitosos!!!
Bem, o encontro começou com a passagem dos vídeos Danças Brasileiras (de Nóbrega) sobre o Tambor de Crioula, onde houve algumas pausas para discussões.
Ficou claro que, qualquer material que levemos para o encontro, o ideal é “compartilhar”, discutir, contar o que você tem, o que você sabe e pode passar para todos!
Melina então leu o texto escrito sobre o 1 encontro. Houve uma pequena discussão sobre o dvd assistido no encontro passado. Além de documentar, vídeos que visam a pesquisa de manifestações, acabam por atrair os jovens das comunidades, muitas vezes desinteressados pela cultura local. E dessas comunidades, como as do tambor de crioula no Maranhão, qual seria a diferença delas para a nossa? As relações curitibanas diferem muito das relações geradas nestes tipos de comunidades? Sim, mas Pai Israel, com toda a sua sabedoria, nos contou um pouco sobre como essas relações estão se dando nas periferias de Curitiba, as que ele andou e vivenciou. Ele conta que, independente das religiões, as pessoas mostram-se mais unidas, mais alegres e dispostas…Isso nos mostra que o centro de Curitiba, difere muitas vezes em muito, da periferia do município.
Foi comentado a relação já discutida (encontro anterior) da sensualidade/sexualidade que tambor de crioula nos ensina. Em Curitiba, houve um tempo que o tambor estava se tornando “porta de criança para Terra”.. Olha, que eu me lembro, umas 6 mulheres engravidaram! Alguma relação com o tambor?? (risos)
Também foi comentado a presença das lideranças no Tambor de Crioula. O que se vê nos Tambores de lá, é uma liderança/hierarquia, um grande respeito por quem lidera um Tambor de Crioula. Foi discutido as dificuldades nesse sentido aqui em Curitiba.
Bem, se você está com um nó na garganta com uma pessoa, e descobre que ela vai no Tambor..é a sua chance de colocar TUDO em pratos limpos!!! Sim, o Tambor atua muitas vezes como um “lava-roupa” (segundoTayana Barbosa) através da improvisação dos versos! Mas se você não é bom rimador..xiii..melhor ficar quietinho. Pode ir treinando em casa, é uma ótima idéia! Melina ressaltou a falta de rimadores aqui! Poucos encaram os versos e cantos.. Ainda nesse aspecto, foi discutido a relação entre as pessoas no tambor. Essas relações muitas vezes são muitas..amor, carinho, ciúme, provocação, enfim..humanas!
Mas e aí..o que é o Tambor de Crioula??
Foi questionado o assunto..um assunto que muitas vezes não cabe teorizar! E sim, vivenciar!! Vivenciar a brincadeira, e também a Devoção! Afinal, o Tambor é em devoção ao nosso querido São Benedito! Muitas vezes, acontece quando um bebê nasce, quando alguém fez uma promessa, enfim, muitos motivos para se fazer um tambor. Mas sempre em Devoção ao Santo!
Bem, muita coisa falada, refletida..Pai Israel me emocionou quando contou a sua visão da primeira vez em que viu um Tambor de Crioula! Resumo em uma frase o que ele disse: “A natureza nos empresta, pois fazemos parte dela”. Pai Israel relacionou muitas coisas no Tambor com a natureza..a pele dos animais, o feminino e sua força (muito presente através da dança) entre outras coisas maravilhosas de sua percepção. Falou também da importância de grupos com iniciativas de trazer para Curitiba essas manifestações. Agradeceu ao Mundaréu e todos que de alguma forma, estão plantando a “Semente” para logo logo, brotar e crescer forte!
A segunda etapa do encontro, se deu com um especial Rezo para São Benedito. Melina leu a oração, e acredito que cada um, da forma que sabe, agradeceu a São Benedito. Afinal, devemos agradecer muito os aprendizados que nos é dado nestes tipos de encontros, e quando vamos brincar o Tambor.
Lá pelas 20 e 15 hs, damos o início ao compartilhar de Angelo Maranhão. Escutamos uma fita que ele trouxe, de uma oficina que fez com Mestre Leonardo, em 1991. Melina comentou que muitas vezes tentamos enquadrar, deliniar o Tambor, ao invéz de senti-lo. Retomando uns parágrafos anteriores, brinca-ló! Ela ressaltou que, o que realmente não pode faltar, é o Fundamento!! Sempre!
Finalizando o encontro, foi proposto que cada um de nós, pesquizemos assuntos e preparemos algo para trazer nos proximos encontros! Como havia comentado no início do texto, umas das coisas mais importante nestes encontros, é a troca! Troca de idéias, de sentimentos, de informações e o que mais tiver que ser “trocado”..
E o tema a ser discutido no próximo encontro será: O que é ser Brincante?
Nos vemos lá!
Dilma Nascimento
Thiago H.
maio 03, 2009 @ 17:52:34
Ser ou não ser (brincante): eis a questão! Ou, ao menos, a questão que nos foi proposta e reproposta em nosso último encontro. Não estávamos ainda em volta do fogo, mas cada um puxava a brasa para sua sardinha: parece natural que obtenhamos respostas a partir do lugar donde enxergamos as perguntas. Incontestavelmente, porém, o corpo era parte central da brincadeira: é por meio dele e dos códigos com os quais pode operar que o tambor acorda. Tenso jogo de olhares, jogo de cintura, jogo da vida. Basta ter corpo para poder ser brincante, mas “basta” é uma palavra inexata, uma vez que até quem já não tem toma emprestado para brincar. Aqui um porém: se por um lado o tambor nos atravessa, se o movimento por vezes extrapola o corpo, nele não cabendo (e não é só movimento a dança, senão também o toque), ele é também produto social. Mobiliza crenças, ritos e solidariedades. Daí a comunidade e seu forte sentido. Quem cresceu brincando e quem brincou mais tarde se equivalem? O que significa ser brincante numa cidade que, em geral, não brinca? E alguém alertou: epa! já éramos brincantes: por aqui, era esse talvez o nosso ritual, começar com as palavras. E tanto assim que elas já nos cobravam algo mais: cansadas das linhas duras da prosa, pediam o apoio menos solitário da pauta. E assim que, afinal, terminados onde tudo começo: ao pé do fogo. Cantando.
Melina
maio 19, 2009 @ 23:58:38
Oi pessoal do tambor
Quero primeiro agradecer a presença no dia 13 , foi lindo o cortejo não? Toda festa enfim…
Nesta quarta decidi privilegiar o tema :O tambor e o cantador , que foi limado na ultima quarta , no lugar do :EspetaculoXbrincadeira por uma questão de necessidade .
Por favor quem puder pensar em atividades ligadas ao verso, a rima e a postura do cantador diante da brincadeira , eu agradeço
Espero voces lá as 1830
beijão
Melina
Melina
jun 02, 2009 @ 11:32:56
Olha este link galera
http://www.culturapopular.ma.gov.br/artigos2.php?id=20